Criei uma versão de você para mim. A versão que criei
era falsa. Tão falsa que não demorei tanto a perceber que era falsa. A tintura
da tua máscara começou a rachar e a se despedaçar, quando tudo caiu vi que era
igual a todos os outros rostos. Comum. Eu inventei aquilo que te tornava
especial para mim. Embora sabendo disso, nunca consegui parar inventar outros
vocês e de me apaixonar e desapaixonar, nunca sem dor. Cheguei a pensar que
sentia muito por você sentir tão pouco. Você era quem não sentia o suficiente.
Você era o errado.
Você sabe o significado do meu nome? É o nome de uma
Deusa e às vezes, por mais que me envergonhe disso e seja doloroso admitir,
acabo agindo como se fosse uma. Eu não admito errar. Mas tenhamos um pouco de
calma. Se eu te inventei e você é errado, logo eu sou errada. Não! Foi apenas
uma desatenção. Uma desatenção após a outra e eu me tornei o que me tornei. Um
ser humano que não se permite errar e erra cada dia mais. Um ser humano que se
engana com suas próprias vendas.
No fundo sabia que se me ocupasse te inventando, me
apaixonando pela versão e me decepcionando com a falsidade dos sonhos construídos
unilateralmente por mim, não teria que me olhar nos espelhos e ver que o maior
problema sou eu.
Tantos rostos diferentes, tantas versões construídas,
tantas paixões platonicamente inventadas com um único objetivo: pintar a casa
velha que está com as paredes rachadas cobertas de mofo.
Assim como criei uma versão de você, criei uma versão
de mim para mim mesma e passei a acreditar nela como se fosse verdade. Longos
anos vivendo sob a versão que criei de mim mesma. Longos anos acreditando em
algo que, agora vejo, era mentira. Agora me dei conta disso e não faço a menor
ideia do que fazer com isso. Não sei se sento e fico olhando a minha vida em um
retrospecto, ou se ando e procuro uma nova direção que me guie rumo a mim
mesma. Não paramos por aqui.
Independente do que eu for fazer com aquilo que fiz
de mim, tenho que tirar essa venda. Tenho que parar de olhar o mundo com os
olhos nublados. Só assim, já dizia o tarô seguidas vezes, me tornarei a
imperatriz da minha vida e conseguirei tomar as decisões com temperança e ser
justa comigo e com os outros. Pode ser tudo ou nada, mas posso dizer que eu já
estou sem nada. Vou atrás do meu tudo.
Isis D.
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